A estruturação de uma proposta ambiental, social e de governança (ESG) adequada e coerente com a realidade está diretamente atrelada à criação de valor de mercado. Se, antes, a atuação individual das organizações era suficiente para fomentar o seu crescimento, hoje, a lucratividade contínua desprende-se das estratégias isoladas e a preocupação com o contexto global torna-se fundamental. Assim, as práticas de ESG incluem os seguintes fatores:
- Environmental (E): diz respeito às questões ambientais e, sobretudo, ao equilíbrio entre danos e benefícios ocasionados pela atuação organizacional;
- Social (S): este critério refere-se às condições de trabalho, saúde e segurança, resolução de conflitos, diversidade, inclusão e relações estabelecidas entre a organização e seus colaboradores;
- Governance (G): o tema da governança está relacionado a aspectos internos da organização, contemplando a remuneração dos executivos, diversidade e estrutura do conselho, bem como estratégia tributária.
O compromisso das empresas com as práticas ESG demonstra uma perspectiva de futuro pautada na sustentabilidade e no desenvolvimento de relações cada vez mais sólidas entre os públicos de interesse. Além disso, de acordo com a Harvard Business Review, houve um aumento significativo no interesse dos investidores em empresas com alta classificação de desempenho ESG ou, ainda, que estejam trabalhando para o melhoramento de seus índices.
Entretanto, embora a interdependência entre o desempenho financeiro e social possua uma influência significativa nos ganhos corporativos, assumir compromissos ESG incompatíveis com a realidade organizacional tende a gerar inconsistências igualmente relevantes. Logo, é imprescindível que os líderes identifiquem e enfrentem as contradições presentes nas corporações em que atuam, de maneira a empreender as modificações necessárias para o cumprimento dos objetivos estabelecidos na Agenda ESG.
Então, como criar valor a partir de uma atuação sustentável?
O Journal of Sustainable Finance & Investment aponta, em uma de suas pesquisas, que prestar atenção nas questões ambientais, sociais e de governança não compromete os retornos, pelo contrário. Resultados de cerca de 2.000 estudos sobre o impacto das propostas ESG nos retornos das ações constataram um índice de positividade de 63%. Para a McKinsey & Company, é de suma importância que as lideranças compreendam as maneiras pelas quais uma sólida proposta ambiental, social e de governança vincula-se à criação de valor de mercado:
- Crescimento da Receita: a criação de práticas atraentes de ESG facilita a entrada em novos mercados e a expansão para os atuais. A confiança em players corporativos também amplia as probabilidades de negociação e as aprovações em projetos expressivos;
- Redução de custos: o ESG auxilia na redução dos custos operacionais e pode, segundo estudo da McKinsey, afetar os lucros referentes às operações em até 60%, considerando, sobretudo, a diminuição do desperdício de água, a utilização de energias renováveis e a promoção de um ambiente de trabalho saudável;
- Mitigação de intervenções legais e regulatórias: a liberdade estratégica proporcionada pela implementação das práticas ESG reduz a pressão regulatória e atenua os riscos de ações adversas dos governos. Ainda, considerando que até 1/3 dos lucros corporativos encontram-se sujeitos à intervenção estatal, esta pode ser uma saída realmente expressiva em termos de contrapartida;
- Maior produtividade da equipe: a estruturação de um ambiente de trabalho saudável, bem como a contratação de profissionais qualificados (isto é, a partir de uma proposta ESG bem construída), aumenta a motivação dos funcionários e seu senso de propósito. A consciência de que a atuação sustentável vai além da obtenção de lucros também proporciona uma maior satisfação no trabalho, uma vez que o reconhecimento impulsiona a produtividade;
- Otimização de ativos e investimentos: com a Agenda ESG, o investimento em oportunidades sustentáveis não é apenas inteligente, mas necessário. Ao evitar investimentos irrecuperáveis devido a questões de urgência climática e realocá-los para contextos equilibrados e potencialmente lucrativos, a taxa de ROI permanecerá em contínuo crescimento.
Diante disso, a relevância das práticas ESG para a criação de valor de mercado pode ser comprovada com os próprios dados corporativos. A harmonia estratégica entre o modelo de negócio da organização e suas escolhas a longo prazo também é essencial para que empresas de sucesso possam impulsionar sua expansão através de iniciativas assertivas e benéficas para o meio ambiente.
O foco na governança
As práticas de ESG requerem um compromisso a longo prazo com iniciativas éticas e sustentáveis. Todavia, é necessário balancear as ações relativas aos seus três critérios (ambiental, social e de governança). Não basta aderir à Agenda ESG anual sem que haja um real comprometimento da governança com seus objetivos. Apesar de sua expressividade para o mercado corporativo, quais são os principais pontos para que o ESG se torne uma realidade dentro das organizações?
- Especificidade: cada nicho deve se voltar às suas necessidades específicas, considerando os objetivos que deseja alcançar e as possibilidades de colocá-los em prática. Porém, de acordo com Henisz, editor da McKinsey, independentemente das circunstâncias da empresa, cabe ao CEO obter apoio para as iniciativas que melhor se alinham à sua missão;
- Praticidade: o CEO precisa ter como mensagem central a criação de valor;
- Percepção realista: se necessário, reconhecer maus resultados e reorganizar os processos a fim de impedir a queda de valor;
- Transparência: comunicar os resultados das ações ESG com prudência e transparência pode promover o valor de mercado a longo prazo.
Desse modo, as práticas ESG devem ser pensadas como um plano de crescimento a longo prazo. Elas maximizam a criação de valor com base no planejamento estratégico e na atuação sistemática, procurando atender aos interesses dos distintos stakeholders a partir da construção de uma realidade onde lucratividade e sustentabilidade andam lado a lado.